Case
Do forno da pizzaria ao frio das geleiras: Ari Kozilek já percorreu mais de 50 mil km sobre duas rodas
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Foto: Arquivo pessoal
Quem vê o empresário de São José dos Campos, Ari Kozilek recepcionando seus clientes (e muitos deles já viraram seus amigos) logo percebe que ali, além da pizza servida no local ou retirada no balcão, tem um verdadeiro arquivo de incríveis histórias. Do lado de dentro, o forno e o caixa... do lado de fora, uma varanda, que transforma - há 22 anos - o estabelecimento em um pedacinho da casa de um velho conhecido, sempre pronto para uma boa prosa.

É para este cenário que o homem de 1,85 metro de altura, voz potente e ainda com um pouco de sotaque paulistano, volta para trabalhar e contar suas aventuras sobre duas rodas. É em cima de sua Big trail (motocicleta projetada longos trajetos percorridos em trilhas, estradas de terra e terrenos acidentados) que Ari descansa da função de dono de negócio para descobrir paisagens, pessoas e histórias.
De 2012 para cá, quando deu início às suas grandes aventuras, ele já percorreu quase 50 mil quilômetros pelo Brasil e América do Sul. A última delas foi em março de 2024, com destino ao Chile, passando pela Carretera Austral e a Patagônia Argentina. Foram 33 dias e mais de 13 mil quilômetros rodados, sendo 800 deles a bordo de uma balsa que durante dois dias navegou pelo Oceano Pacífico.

Foto: Arquivo pessoal
“Viajar para mim é um tratamento psicológico... é fazer uma limpeza no HD"
“Sempre que viajo é com um grupo pequeno de amigos e geralmente sou eu o ´denominador comum´ a cada viagem. O cara tem que gostar de andar de moto e aí o espírito da aventura vem”, conta Ari.
E tem que ser aventureiro mesmo, porque além das belíssimas paisagens encontradas pelo caminho e dos cenários únicos concebidos pela natureza local, o frio, a neve, as noites dormidas em cabanas e os terrenos acidentados exigiram dele e dos amigos, muita resiliência para cumprir todo o roteiro.

Foto: Arquivo pessoal
"Isso recicla nossa cabeça. Além disso, a gente aprende a se relacionar com as pessoas, lidar melhor com as diferenças”, explica. E esta facilidade no quesito relacionamento também tem outros benefícios. Ari conta que fez amizade com o cozinheiro da Balsa, um chileno com quem trocou suas experiências culinárias aprendidas com a mãe, Dona Maria Rosália de Oliveira Kozilek. E o que isso tem a ver com esta história? Digamos que um certo privilégio na hora de receber o prato de comida... nada mal para quem precisa recuperar as energias e enfrentar os desafios que ainda virão pela frente.
Destino: sertão
O contato com o ser humano, sua essência e as histórias de vida, são elementos que instigam Ari Kozilek a percorrer de moto o interior do Brasil, principalmente o sertão nordestino. É de lá que vêm muitas das histórias de gente simples e coração enorme!
Em 2012, quando ele e três amigos desbravavam uma estrada de terra no interior do Piauí, o olhar curioso e fascinado de um garoto ao ver as motos, contagiou o grupo. “Ele devia ter uns 8 anos e veio pedalando sua bicicleta. Ficou vidrado ao ver as motos. Perguntamos então o nome dele e porque não estava na escola. Disse que se chamava Mateus e que tinha ficado em casa para ajudar o pai a cuidar dos porcos”, conta Ari.
Muito prestativo, o menino ainda foi buscar água e uma caneca de alumínio para matar a sede do grupo, desgastado pelo calor e seca do local. “Foi a água mais gelada que já bebi na minha vida”, relembra Ari.
Antes da partida, Mateus pegou seu pequeno celular para registrar aquele momento. Apesar de não ter esta foto, Ari guarda na memória os detalhes desta passagem e espera, quem sabe um dia, reencontrar e conhecer o rumo que teve a história desse novo amigo.
Na trilha de Lampião
Já a viagem para o sertão da Bahia tinha pelo menos um ponto certo de parada: a residência de antigos amigos, Dona Maria e Seu Fausto, que trabalharam durante anos no sítio da família de Ari em Juquitiba, região metropolitana de São Paulo. A ideia do casal foi juntar um dinheirinho em terras paulistas e voltar para o interior baiano para construir a casa própria.
Hoje (os dois com mais de 80 anos) ainda moram em Guajeru, um município com pouco mais de 8 mil habitantes (segundo o último censo do IBGE) e distante 657 quilômetros da capital Salvador. Além de matar a saudade de gente querida, presenciar as dificuldades destas pessoas também torna a aventura de Ari uma oportunidade de crescimento pessoal... A água consumida pela família durante o ano, por exemplo, é a que foi estocada com a chuvas de janeiro.
E esta visita ainda rendeu conhecer uma outra personagem que passou por outra dificuldade. Uma conhecida de Dona Maria contou que quando ainda era bebê, ficou escondida com a mãe durante uma semana em um buraco, dividindo espaço com bichos que viviam no local. A fuga desesperada foi para escapar dos olhos do bando do cangaceiro Lampião que, segundo ela, eram homens que costumavam saquear e abusar das mulheres que encontravam pelo caminho.
Até a próxima!
E se dependesse da disposição deste aventureiro para contar histórias, eu teria material para muitas e muitas outras matérias. Mas se você ainda quiser ouvir estas outras, contatadas “direto da fonte”, é só frequentar a “varanda” do estabelecimento do Ari. Aproveita e pede uma pizza, porque o papo bom já está garantido!
Até o próximo rolê pelo mundo e boa viagem!
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